quarta-feira, 27 de maio de 2009

Regata do Jabaquara
















Nas fotos os competidores maiores, o Orson, o Maria Preta (ex bola sete) e o Fram (ex batuque).

27 de maio de 2009

Regata do Jabaquara

Vamos fazer esse sábado o primeiro treino oficial do Orson para a Semana de Vela, correndo a Regata do Jabaquara. Depois de quase 3 meses de inatividade e com a troca de alguns tripulantes (Tomaz e o gengivinha pediram para sair, pois aceitaram posições em barcos maiores) vai ser uma ótima oportunidade para o entrosamento da tripulação em um clima descontraído. Antes do warm up vamos fazer ainda um treino de manobras e outro para acertar a regulagem das novas velas.

Bom vamos à Regata do Jabaquara. Essa é uma nova regata que esperamos que entre para o calendário de regatas festivas da ilha, junto com a do camarão e a caipirinha cup. Na ilha estas regatas tem uma certa tradição. Sempre começaram como uma iniciativa dos próprios velejadores e passam a ter o apoio dos clubes e de um lugar que se encarrega da festa. Agora isto está mudando um pouco.

A primeira foi a famosa peixada no Eustáquio, onde numa combinação de vela, rum, cerveja e peixe na brasa, muitos velejadores, que nunca tinham se aventurado fora do canal, passaram a conviver com a beleza agreste do outro lado da ilha. Para não perder a festa, depois de uma certa hora, valia inclusive ligar o motor. Agora faz tempo que não temos uma. Estou até com saudades!

Depois foi instituída a, hoje já tradicional, regata do Camarão. A iniciativa, feita para homenagear a pesca, que por anos, foi o ganha pão dos caiçaras da ilha, foi um absoluto sucesso, contando sempre com um grande numero de inscrições e incentivando todos os velejadores, inclusive os não regateiros, a apreciarem, de uma forma descontraída, as decantadas “delicias” da competição. Essa regata, depois de ser organizada de forma independente, em grande parte pelo pessoal da marevela, conta hoje com o apoio do Pindá, que se encarrega da festa e da Camaroada.

A mais nova foi a Caipirinha´s Cup, que contava com o apoio do Captain´s e do saudoso Betão. Esse ano, para manter viva a tradição, ela foi assumida pela Secretaria de Esportes da Prefeitura. Perdeu um pouco a sua característica inicial, de ser uma regata patrocinada por um bar na praia, com festa na areia, etc., mas apesar disso, foi um absoluto sucesso. Contou com a participação dos veleiros da Regata de Portimão e com animada festa na vila, com musica ao vivo, dança e grande quantidade da "marvada". Agora, para recuperar um pouco o espírito “Luau” da Caipirinha's Cup vamos ter, organizada dessa vez pela Secretaria de Esportes da Prefeitura e com o apoio do bar do Jabaquara, a regata do Jabaquara.
Com a previsão de NE e L de 10 a 15 nós, vamos ter uma regata puxada de contravento. Saindo do píer da vila em direção a Ponta das Canas, ela segue rumo N, bordejando contra o vento NE que entra no canal e que deve ficar mais forte na nossa “fabrica de vento” - a ponta das canas. Daí, atingido o limite N da ilha, o rumo passa a ser Leste, ao mesmo tempo que o vento ronda nesta direção, continuando o contravento apertado. Se a corrente de maré estiver com o vento, o que é provável, vamos ter um duelo de bordos curtos, junto as pedras para escapar da correnteza e defender a posição interna. Vai ser divertido!

Certamente teremos duelos interessantes. Não sei se o Loyal e o Montecristo vão correr, mas teremos certamente o 40.7 ex-Batuque, agora Fram e sob a nova direção do Felipe, com sua turma do Jilick, um pouco maior que nós, é um concorrente perigoso. Os tripulantes do Maria Preta, ex-Bola Sete, um 47.7, creio que o maior barco da raia, já apostaram uma caixa de cerveja (ou seria garrafa de rum?)que deixam o Orson para traz. Eles andam mais. Mas e os bordos!? Qualquer deles que ganhe, está bem ganho e o premio vai ser pouco para matar a sede dos tripulantes.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Fastnet Race











Fotos por Carlo Borlenghi A chegada no quebra mar de Plymouth e a largada em Cowes, em cima o Rambler e o Leopard os primeiros na marca.

Como nestes meses de outono não temos feito regatas (acabamos não indo para Búzios e Ubatuba), esse blog acabou por ir na direção da filosofia da vela e dos sonhos de velejador.
Depois de uma regata calma, em barcos históricos, em um dos mais encantadores lugares do Mediterrâneo, vamos ao tipo oposto de sonho do velejador de regata. Não há um verdadeiro regatista que nunca sonhou com a Fastnet, nem que seja como pesadelo.

A Fastnet é a mais antiga e mais prestigiosa das grandes regatas de oceano. Começou em 1926, ensejando a criação da RORC, e desde então, com a interrupção da 2ª Guerra, vem sendo disputada como um evento bianual. È um percurso de 607 milhas, por aguas que podem ser perigosas, e que colocam um importante desafio estratégico e de habilidade marinheira aos eventuais competidores. Na ultima edição a largada regata foi atrasada de 48 horas devido aos avisos de mau tempo. É uma regata para ser levada a sério.

A regata sai de Cowes na ilha de Whright, no Canal do Solent, o berço da vela oceânica de regata. A Maré é um elemento tão importante no Solent, (chega a 5 nós) que o horário da largada é dado pelo inicio da vazante, para facilitar as primeiras horas da regata e a passagem pela ponta de Needles (agulhas) no final da Ilha, onde as águas são particularmente turbulentas. Entrando no canal da Mancha as dificuldades continuam e a flotilha tem de enfrentar as fortes correntes de maré e o tempo imprevisível da costa inglesa do Canal, com vários Cabos a ser ultrapassados. Depois do Land's End, limite oeste da costa inglesa, entra-se nos chamados Western Approaches (entrada oeste do canal da Mancha), onde a violência das depressões do atlântico norte encontra uma verdadeira barreira na entrada da Mancha, muito mais rasa. Isso aliado ao encontro com as águas do canal da Irlanda (costa oeste inglesa), cria as condições para a formação de um mar grosso e quando tempestuoso, dos mais perigosos do planeta, o que pode ocorrer mesmo em Agosto, no meio do verão. 150 milhas a frente está o farol da Fastnet, que marca o extremo sul da Irlanda. A visão do farol com mais de 50 m de altura, sobre a imensa pedra negra, isolada da costa é majestosa e muitas vezes sinistra, rivalizando com o Horn, no imaginário dos velejadores de regata. Às vezes seu poderoso facho de luz pode ser visto a mais de 20 milhas de distancia, piscando a cada 5 segundos, às vezes, com mau tempo ou neblina, só é visível de muito perto ou mesmo só se pode ouvir o triste gemido de sua buzina. A volta, depois de passar por uma spare bouy, a umas poucas milhas a WSW, para evitar os veleiros ainda vindo, a flotilha se afasta da costa da Irlanda, para outra longa perna de mar aberto em direção a Bishop Rock, no extremo sul das ilhas Scilly nos Western Approaches e daí para a costa Inglesa da Mancha, chegando na baia de Plymouth. A partir das ilhas Scilly, as correntes de maré começam a se fazer sentir novamente e a tática escolhida para se entrar no Canal é fundamental para o sucesso. Daí para frente ainda faltam umas 50 milhas para a chegada, com todos os desafios de uma regata costeira. A linha fica no quebra mar da base naval de Plymouth.

Para aumentar ainda mais o prestigio desta regata, ela desde 1959, foi a regata final (a longa) da Admiral Cup, evento quadrianual, que reune na mais renhida competição, flotilhas nacionais de 4 barcos escolhidos para representar o seu país, nessa espécie de campeonato mundial de vela de oceano. Na Fastnet de 1979, onde largavam os barcos de regata da Admiral cup e outros quase 200 barcos, a flotilha foi atingida pela pior tempestade da história da regata. Durante a noite, perto da Fastnet rock, quando os barcos mais rápidos já estavam no caminho de volta e os menores estavam passando pelas mesmas águas, ainda indo, a passagem de uma depressão provocou ventos de mais de 40 nós e uma mudança de 90º em sua direção, resultando em um mar enorme e desencontrado, com muitas ondas quebrando, de tamanho e direção imprevistas. 23 veleiros naufragaram ou foram abandonados e 15 pessoas morreram. A violência das ondas quebrou lemes e mastros, virou e inundou barcos, rompeu cintos de segurança e lançou ao mar tripulantes. Muitos acidentes ocorreram no processo de abandono e lançamento dos botes salva vidas. Os helicópteros do serviço de salvamento fizeram dezenas de missões, evitando uma perda ainda maior de vidas.
A Fastnet de 1979, ficou na historia e foi determinante no desenvolvimento de regras e exigências de segurança mais estritas, de novos equipamentos e da construção de veleiros mais seguros, mudando exigências da regra IOR e eventualmente levando (uma década depois) a sua substituição.

De qualquer forma, sendo uma das mais duras regatas de oceano, a Fastnet, apesar de seu facínio, costuma ficar no domínio dos sonhos. Eu uma vez planejei fazer, não a Fastnet, mas um cruzeiro nas mesmas águas, na costa da Irlanda. Falando com um amigo, mais experiente e realista, logo desisti. - Você está louco? ele disse. - Eu não sabia que você era masoquista! Vamos velejar no Caribe que é lindo, o mar e o vento, ao menos no 1º semestre, são perfeitos, é quente e tem sempre sol.

A Fastnet Race




























Fotos por Carlo Borlenghi A passagem da ponta Needles (agulhas) e em cima veleiro pega mar grosso a caminha da Fastnet e Rambler e Leopard se aproximam da marca

terça-feira, 12 de maio de 2009

Portofino Rolex Cup


Fotos por Carlo Borlenghi

Foi disputado na semana passada em Portofino, um dos mais lindos e tradicionais portos da Europa na costa da Ligúria, no Norte da Itália, o Portofino Rolex Trophy. Esta é uma nova regata dedicada à disputa de barcos clássicos que ainda correm regatas.
As inscrições são feitas apenas por convite e dela participam os barcos que fizeram a historia da vela e que foram cuidadosamente recuperados e hoje são uma flotilha que faz sonhar os aficionados pela historia do esporte e os tradicionalistas.
Foram convidados os classe 12M, que por anos disputaram a América Cup, os 23m, que usando o mesmo tipo de formula foram ativos no começo do século XX, e os 8m menores também muito ativos na primeira metade do século XX e que foram classe olímpica até a década de 50.
Estiveram presentes o 12 M VARUNA e o ORION, uma escuna Camper and Nicholson de 129 pés, que fizeram seu centenário nessa regata. Alem do VARUNA competiu também o lendário, mais recentemente reconstituído e também quase centenario 12 M de Fife, CINTRA, um outro 12 M, um pouco mais novo, o EMILIA e vários 8 M. Uma verdadeira flotilha de sonhos. Uma flotilha de uma outra era da vela trazida de novo a vida.
A classe Dragão que faz 80 anos de idade resolveu aproveitar o ensejo e fazer tambem o seu campeonato na mesma raia.
O ORION foi inicialmente construído para a família real espanhola com o nome de Sulvane, foi vendido e passou por vários portos, nomes e proprietários, em 1930 foi batizado ORION. Em 1966 foi desmastreado em uma tempestade no mediterrâneo, onde sofreu sérias avarias. Em 1998-99 foi completamente remodelado, se tornando a maravilha que é hoje e compete em quase todas as regatas de clássicos, disputando hoje com o Mariette, uma escuna Herrshoff de 110 pés, a honra de ser o clássico mais rápido do mundo.
O Varuna é um 12 M construído em 1909, copia do yacht Britania, pertencente à família real inglesa. Competiu antes da 1ª guerra, mas depois passou muitos anos abandonado em portos do Mediterrâneo e do Caribe, para ser salvo, na década de 1990, por um proprietário italiano, que o colocou em estado de novo e desde então é um habitué das regatas de clássicos.
O Cintra foi dos últimos desses 12 M do começo do seculo XX a ser restaurado. Ele é um desenho do gênio escocês William Fife, e desde o começo foi super competitivo, ganhando a maior parte das regatas que competiu antes da 1ª grande guerra. Em 1919 ele foi vendido para a Noruega e competiu até 1956. Sua última regata foi a Volta das Ilhas Britânicas daquele ano. Depois ele foi abandonado por um longo tempo e posteriormente extensamente modificado. Foi redescoberto na década de 90 e passou por um longo processo de restauração em 2002 e 2006 e hoje é um dos melhores exemplares dos 12 M dessa época.
A regata foi basicamente um desfile desses barcos de sonho. Faltou vento e apenas 2 regatas foram realizadas com a vitória do Emilia, segundo Cintra e terceiro Varuna na classe 12 M. A classe 8M foi ganha pelo Bona, seguidos do Elsinore e do Ellen.
Como não poderia deixar de ser, nesse que é o mais lindo porto da costa italiana, o jantar de entrega de prêmios foi suntuoso, no convento Beneditino de 1311 "La Cervara". È um prédio único, dependurado na encosta da costa Lígure, com uma vista maravilhosa e com um jardim monumental, considerado hoje entre os principais jardins da Itália.
Bom! para os que gostam de barcos clássicos, história e do charme da costa italiana, esta regata foi um bom alimento para os seus sonhos.

Portofino Rolex Cup






Fotos por Carlo Borlenghi"La Cervara", o convento Beneditino da Festa de Premiação e o duelo onírico entre dois antigos campeões - o renascimento de uma era da vela de competição ha muito desaparecida